sexta-feira, 26 de agosto de 2011

URGENTE E IMPORTANTE


Relógio desperta, levanto-me, mas ainda não sei se realmente acordei. O que me vem à mente é a sensação de que já estou atrasado e preciso “correr”. Algo ou alguém me espera, preciso ir sem demora... Documentos, ligações, reunião, trabalho braçal, entregas, visitas, pendências, decisões, obrigações... Eis que me aguardam.
É assim. Cada dia pareço estar imerso num sistema que continuamente exige de mim uma resposta, iniciativa, ação; e que, preferencialmente, ou melhor, exclusivamente, seja feito de forma perfeita.
Azáfama!  Eis um grito, numa palavra difícil, para expressar o que vivo.
Mas nem tudo está perdido, posso organizar-me interiormente para poder começar organizar melhor o externo.
Sei que tudo o que me rodeia é importante. Todas as esferas de minha vida merecem atenção. No entanto, meus braços não são elásticos, não consigo abraçar o mundo.
Preciso então discernir e eleger nas coisas importantes aquilo que tem caráter de urgência. E assim, priorizando o que é urgente, as coisas vão se “organizando para serem mais bem organizadas”.
Mas deve-se tomar cuidado para não fazer com que tudo o que é importante se torne urgente. Eis um abismo que pode nos levar novamente a azáfama.
O que é urgente? Aquilo talvez que não é tão fixo, mas tem caráter imediato na sua solução. São as coisas inadiáveis, dependentes de uma decisão “hoje e agora”, de uma atitude concreta para seguir em frente. É preciso encarar tais coisas e não deixá-las para depois. Geralmente quando o urgente é engavetado, amanhã ele reaparece como problema.
Por sobrevivência faz-se necessária uma melhor organização. Administrar as prioridades. Pois querer fazer muitas coisas ao mesmo tempo é uma forma capciosa de viver. Desgaste grande, o de fazer pouco do que fazemos muito.
Em suma, saber que nem tudo o que é importante é urgente, e que tudo o que é urgente é importante; cria bases para um agir administrativamente organizado.
Em meio à azáfama???
Priorizar dentre as coisas importantes aquelas que são mais urgentes, talvez seja uma mínima e inicial solução.


segunda-feira, 22 de agosto de 2011

MISSA COMO UM POEMA ... Adélia Prado

«A missa é a coisa mais absurdamente poética que existe. É o absolutamente novo sempre. É Cristo se encarnando, tendo a sua Paixão, morrendo e ressuscitando. Nós não temos de botar mais nada em cima disso, é só isso», enfatiza.


Poeta e prosadora, uma das mais renomadas escritoras brasileiras da atualidade, Adélia Prado, 71 anos, falou sobre o tema da linguagem poética e linguagem religiosa essa quinta-feira, em Aparecida (São Paulo), no contexto do evento «Vozes da Igreja», um festival musical e cultural.
Ao propor a discussão do resgate da beleza nas celebrações litúrgicas, Adélia Prado reconheceu que essa é uma preocupação que a tem ocupado «há muitos anos». «Como cristã de confissão católica, eu acredito que tenho o dever de não ignorar a questão», disse.
«Olha, gente – comentou com um tom de humor e lamento –, têm algumas celebrações que a gente sai da igreja com vontade de procurar um lugar para rezar.»
Como um primeiro ponto a ser debatido, Adélia colocou a questão do canto usado na liturgia. Especialmente o canto «que tem um novo significado quanto à participação popular», ele «muitas vezes não ajuda a rezar».
«O canto não é ungido, ele é feito, fazido, fabricado. É indispensável redescobrir o canto oração», disse, citando o padre católico Max Thurian, que, observador no Concílio Vaticano II ainda como calvinista, posteriormente converteu-se ao catolicismo e ordenou-se sacerdote.
Adélia Prado reforçou as observações, enfatizando que «o canto barulhento, com instrumentos ruidosos, os microfones altíssimos, não facilita a oração, mas impede o espaço de silêncio, de serenidade contemplativa».
Segundo a poetiza, «a palavra foi inventada para ser calada. É só depois que se cala que a gente ouve. A beleza de uma celebração e de qualquer coisa, a beleza da arte, é puro silêncio e pura audição».
«Nós não encontramos mais em nossas igrejas o espaço do silêncio. Eu estou falando da minha experiência, queira Deus que não seja essa a experiência aqui», comentou.
«Parece que há um horror ao vazio. Não se pode parar um minuto». «Não há silêncio. Não havendo silêncio, não há audição. Eu não ouço a palavra, porque eu não ouço o mistério, e eu estou celebrando o mistério», disse.
De acordo com a escritora mineira (natural de Divinópolis), «muitos procedimentos nossos são uma tentativa de domesticar aquilo que é inefável, que não pode ser domesticado, que é o absolutamente outro».
«Porque a coisa é tão indizível, a magnitude é tal, que eu não tenho palavras. E não ter palavras significa o quê? Que existe algo inefável e que eu devo tratar com toda reverência.»
Adélia Prado fez então críticas a interpretações equivocadas que se fizeram do Concílio Vaticano II na questão da reforma litúrgica.
«Não é o fato de ter passado do latim para a língua vernácula, no nosso caso o português, não é isso. Mas é que nessa passagem houve um barateamento. Nós barateamos a linguagem e o culto ficou empobrecido daquilo que é a sua própria natureza, que é a beleza
«A liturgia celebra o quê?» – questionou –. «O mistério. E que mistério é esse? É o mistério de uma criatura que reverencia e se prostra diante do Criador. É o humano diante do divino. Não há como colocar esse procedimento num nível de coisas banais ou comuns.»
Segundo Adélia, o erro está na suposição de que, para aproximar o povo de Deus, deve-se falar a linguagem do povo.
«Mas o que é a linguagem do povo? É aí que mora o equívoco», – disse –. «Não há ninguém que se acerca com maior reverência do mistério de Deus do que o próprio povo».
«O próprio povo é aquele que mais tem reverência pelo sagrado e pelo mistério», enfatizou.
«Como é que eu posso oferecer a esse povo uma música sem unção, orações fabricadas, que a gente vê tão multiplicadas e colocadas nos bancos das igrejas, e que nada têm a ver com essa magnitude que é o homem, humano, pecador, aproximar-se do mistério.»
Segundo a escritora brasileira, barateou-se o espaço do sagrado e da liturgia «com letras feias, com músicas feias, comportamentos vulgares na igreja».
«E está tão banalizado isso tudo nas nossas igrejas que até o modo de falar de Deus a gente mudou. Fala-se o “Chefão”, “Aquele lá de cima”, o “Paizão”, o “Companheirão”.»
«Deus não é um “Companheirão”, ele não é um “Paizão”, ele não é um “Chefão”. Eu estou falando de outra coisa. Então há a necessidade de uma linguagem diferente, para que o povo de Deus possa realmente experimentar ou buscar aquilo que a Palavra está anunciando», afirmou.
Para Adélia Prado, «linguagem religiosa é linguagem da criatura reconhecendo que é criatura, que Deus não é manipulável, e que eu dependo dele para mover a minha mão».
Com esse espírito, enfatizou, «nossa Igreja pode criar naturalmente ritos e comportamentos, cantos absolutamente maravilhosos, porque verdadeiros».
Ao destacar que a missa é como um poema e que não suporta enfeites, Adélia Prado afirmou que a celebração da Eucaristia «é perfeita» na sua simplicidade.
«Nós colocamos enfeites, cartazes para todo lado, procissão disso, procissão daquilo, procissão do ofertório, procissão da Bíblia, palmas para Jesus. São coisas que vão quebrando o ritmo. E a missa tem um ritmo, é a liturgia da Palavra, as ofertas, a consagração… então ela é inteirinha.»
«A arte a gente não entende. Fé a gente não entende. É algo dirigido à terceira margem da alma, ao sentimento, à sensibilidade. Não precisa inventar nada, nada, nada», disse Adélia.
E encerrou declamando um poema seu, cujo um fragmento diz:
Ninguém vê o cordeiro degolado na mesa,
o sangue
sobre as toalhas,
seu lancinante grito,
ninguém”.

sábado, 13 de agosto de 2011

DIA DOS PAIS







Eis o momento para reconhecer num dia, aquele que cuida de nós por quase toda nossa  vida..
Alguém que com suor e cansaço garante o descanso dos nossos passos.
Alguém que sempre quer o nosso bem. Às vezes com silêncio, com gestos, com o olhar, com o jeito durão e modesto, mas que nem por isso deixa de ser “coração” e ter afeto;
Sua caridade não exige reciprocidade. Ele não liga  para o aplauso e se esta no palco é para demonstrar o que sabe e o que faz.
Alguém que busca na doação o fim da ação e nada mais
Alguém que é presença, que educa consciência, que é chefe sendo servo.
Alguém que ama demais. Você, meu pai.

domingo, 7 de agosto de 2011

RETICÊNCIAS...

O que querem dizer? ...
Algo que não se sabe escrever ou muitas coisas que se gostaria de dizer?
         Reticere, calar alguma coisa ou et caetera, algo mais a acontecer?

...  São consequências...
Em qualquer texto normal que se apresente, buscam plenificar os sinais e as letras antecedentes e ainda presentes.
Mais ainda, buscam compreender o que foi escrito anteriormente, não de modo definido e imediato, mas que será conseguido a partir do que cada leitor absorve e entende.

... Três pontinhos que simbolizam um mundo. Tanto se pensa, imagina e inventa com a presença deles.  São então "Os três passos do pensamento que continuam por conta própria o seu caminho" (Mario Quintana).

         ... Revelam também certo comodismo daqueles que querem logo definir e, sendo assim, diminuem e limitam.
Às vezes, são colocadas somente para fugir, ir embora e evitar esforço na busca da palavra que falta.

... Demonstra excesso e valor inefável de significado ou revela certa pobreza do que não se sabe?! 

De uma forma ou de outra, o que se busca com as reticências é demonstrar possibilidades e limites através da “linguagem” da escrita; seja em forma de palavras para expressar, justificar, sejam palavras para silenciar, limitar e concluir.

... É uma maneira muito linda que o autor tem para fazer o texto continuar; continuar na própria vida do leitor, inspirando-lhe iniciativas perante responsabilidades assumidas.

... Que no subjetivo, contém um ponto de interrogação relacionado ao que será continuado. Como uma pergunta que se faz para se alcançar uma resposta capaz, seja na continuidade ou no término, de transformar o que é interrogação em exclamação e em convicção.

... É estrada, na chegada limitada ou na partida infinita das palavras em sua maneira de conceber e continuar a perene estrada que é a vida ...


 

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

CORAÇÃO HUMANO...

Olhar para o coração...
Ver paradoxos e sínteses, encontrar estradas e caminhos, mas também limites e espinhos.
Experiência e inocência perante a vida, suas manhas, manhãs, noites e ensinos.

Ele ( o coração) é um pouco assim, satisfeito e feliz com que se tem,  com que e quem o tem também; mas bem sabe que algo sempre lhe falta, na velha e inovadora arte de amar.

O coração...
Às vezes cheio de razão é fraco quando se acha demais forte e o contrário também é verdade.

Sua maior força é o amor, aliás, é o seu motor.
O amor que oferta e acolhe, o Divino e o humano, o santo e o profano. O que o preenche, não o deixa carente e de si mesmo ausente.

Coração... solo fértil onde o amor se faz para ser.