Quanto mais espinho, mais beleza
e perfume uma flor reserva. A facilidade por vezes desvaloriza a essência da
verdade. Não que seja critério, mas a dificuldade prova, preserva e fortalece o
que tem valor no interno.
É preciso saber que o
vento contrário tem os dois lados, conforme os ideogramas (letras) que compõem a palavra CRISE em chinês: PERIGO e OPORTUNIDADE.
Ter a consciência do perigo que me
alerta para não ir além do risco, aumentar o cuidado e redobrar a atenção.
Raciocinar o erro que está à minha frente e quem sabe evitá-lo.
E se o perigo existe, ainda que
seja em forma de palpite, é preciso reconhecê-lo e nele os medos que o
recheiam. Considerar os limites e as ameaças, viver com humildade no círculo da
minha realidade.
Mas a coragem aí também reside,
no paradoxo de ser forte ao assumir a própria fraqueza; na liberdade de dizer
sim em forma de não; no reconhecer que a bagagem interior não está preparada para
seguir numa estranha estrada; na inquietação de não ter segurança e totalidade perante
a próxima ação, censurando sua intenção.
O outro lado do vento e o que tem
maior proveito é a oportunidade. Aliás, a palavra oportunidade tem origem no nome de um vento importante na navegação da antiguidade; os latinos chamavam de “ob portus” ao vento que conduzia a embarcação em direção ao porto.
Ob Portus ou Oportunidade, eis o
vento que projeta, que faz ir além dos limites e das tempestades. Mas é preciso
atenção, perspicácia e sabedoria para discernir, para decidir, para empreender
a vida numa causa que custe a felicidade. Enfim, é preciso deixar-se envolver
pela oportunidade dando sentido e significado para o que seguirá.
O risco sempre vai existir, bem
como as crises.
Seria insignificante e muito estática a vida se não houvessem
tais contrariedades.
São, pois, paradoxos, pérolas escondidas nas profundezas
do mar, são também oásis descoberto no mais seco dos desertos.
As pedras no caminho existirão,
mas será minha a decisão de torná-las obstáculo e limite, ou então, decidir “juntá-las
para construir um belo castelo” (cf. F.Pessoa).
É preferível o Castelo ao
obstáculo, a surpresa à murmuração, a possibilidade ao limite. Enfim, é melhor
o esforço recompensador de ser Autor do que o comodismo improdutivo de ser
Vítima.
Assim a vida será sempre interessante, na novidade e dinâmica que ela reserva para quem é capaz de enxergar mais oportunidade do que perigo nos ventos contrários e crises.