sexta-feira, 15 de julho de 2011

TRABALHO: Sacrifício ou satisfação?

Para alguns, talvez inspirados no mundo antigo e medieval, o trabalho é visto como um castigo. Isto porque “tripalium”, origem etimológica da palavra “trabalho”, era um instrumento que se colocava nas pessoas para produzir desconforto; logo, o trabalho tinha a concepção de castigo, de escravidão, de sacrifício.
Mas tal concepção, no decorrer da história, através da religião e dos filósofos, foi sendo modificada. O trabalho começou a ser visto como uma forma do homem ser dignificado. Sim, porque nele o homem se compromete em ser responsável, aprende a cuidar de si e dos outros.
Assim sendo, o “tripalium” foi sendo substituído pelo “poëisis”, também do grego, que significa "minha obra". A partir de então, não era mais o trabalho que dominava o homem, mas o homem podia ser autor do trabalho, dominá-lo e ser-se através dele.
É complicado quando a visão que se tem do trabalho é fardo. Tudo fica vazio e sem sentido, só existe sacrifício, longe da realização, num interesse insatisfeito e cansativo.
O fardo pode ser tirado e, nesse caso, basta quebrar o paradigma da ideia de trabalhar. É bem verdade que muitos não têm a possibilidade de trabalhar no que realmente gostariam e por isso não há uma total realização no que se faz. Às vezes, ou quase sempre, o trabalho é visto com um olhar de interesse, ou seja, apenas um meio para ganhar o pão de cada dia.
Nosso trabalho é nossa obra. Quaisquer que sejam os tipos, eles contêm possibilidades de realização.
Portanto, caro leitor, seu trabalho é sua obra. Não quero que você idolatre seu trabalho, como muitos fazem, chegando ao ponto de trocar a vida familiar, de lazer, cultural, religiosa, isso é ser escravo do trabalho. Mas que você tenha um olhar mais subjetivo e positivo do seu trabalho, buscando se enxergar nele, haurindo algo que lhe acrescente como pessoa.
Naquilo que se faz está também aquilo que se é. Devemos desejar sempre a autenticidade, ou seja, ser ao fazer. Os atos que faço constituem e manifestam aquilo que sou. Se o trabalho é "minha obra" devo tratá-lo como um instrumento para alcançar a felicidade.
Enfim, cada dia e cada ato de trabalho são sementes que me garantem o fruto de uma vida feliz, pautada na verdade da minha dignidade. Ele não pode ser considerado mais um limite ou um fardo que continuamente carrego; o trabalho deve ser pra mim uma real possibilidade de conquistar a felicidade, no esforço de cada dia.
O salário e o sustento, o alento na família. O cansaço e o esforço, para tantos é descanso. O compromisso e a responsabilidade, a minha dignidade. O intervalo e o seguimento, minha centralidade. A obediência e a disciplina, a essência. A amizade e a alteridade, a riqueza que se acrescenta. A partida e a chegada, o porto seguro. Enfim, meu trabalho e minha obra, minha vida.

Um comentário:

  1. Olá Hudson, muito inteligente seu texto. Realmente, quando conseguirmos ter ése olhar poeisis sobre o trabalho, todo o tripalium deixa de ser incomodo.

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