O cenário está todo preparado: os fariseus, a mulher pecadora e Jesus.
Os fariseus, homens que trazem pedras na mão, mas, sobretudo, trazem pedra no coração. Julgam e condenam o pecado da mulher, mas talvez eles mesmos fizeram-na pecar. Não percebem que o erro muda de lado quando o identificamos mas não buscamos solucioná-lo. Não, a solução não é condenar, apedrejar, difamar, humilhar o outro através do seu erro. Ó fariseu, que também habita no meu eu! Quando me esqueço do meu próprio erro, quando não sou capaz de acolher o outro sendo-lhe um apoio, levantando-o da queda e motivando-o ao recomeço.
A mulher, todos a condenam, mas a pior condenação é a que ela faz de si mesma. Já não tem expectativa, sonhos ou planos que sejam; para ela, a morte já é certa. As pedras já foram atiradas no seu interior, o rosto está desfigurado, retrata o cansaço da vida ingrata, de ser apedrejada com o olhar malicioso do outro, de sentir-se roubada e usada na sua pernonalidade. Está ali, ajoelhada, ferida e humilhada na sua dignidade mais íntima de pessoa. Tantas são as palavras de maldição na expecativa dessa condenação. Palavras que ferem, que julgam, que condenam, que humilham. Na verdade, tais palavras são piores que as próprias pedras. Na sua vida, foi difícil escutar uma palavra que a pudesse perdoar, acolher, corrigir, educar. Mas eis que agora está ali. Sua defesa é a sinceridade, sua própria confissão. Mas em Deus, o réu confesso tem a garantia do perdão e da liberdade.
Jesus, Veio ao mundo para resgatar no homem a sua dignidade perdida de ser Imagem e Semelhança de Deus. De suas palavras, seus gestos, do seu olhar exalam amor. É feliz quem se encontra com esse amor Divino, capaz de humanizar-nos na totalidade do nosso ser.
Jesus, os fariseus e a mulher, confronto entre a lei e o amor. O encontro com a mulher quer ser também um encontro indireto com os fariseus, naquilo que Ele faz e é. “Quem não tem pecado que atire a primeira pedra!” Ninguém ousou atirar a pedra, foram saindo de mansinho como quem sente o peso na consciência. Não é o amor à lei que salva o homem e o torna santo, mas sim, a lei do amor. Os fariseus foram embora e Jesus fica a sós com a mulher.
A misericórdia e a miséria (Sto. Agostinho). Ela recebe dele um olhar e um jeito único de ser acolhida. Um olhar profundo, cheio de misericórdia, que tinha a intenção de resgatar a dignidade perdida pelo pecado e pelos invasores de sua alma. No olhar de Jesus não há malícia, não há condenação, há acolhida, há compaixão. Porém, há um pedido: “Vai e não tornes a pecar!” O gesto de quem ama se desdobra não só em acolhimento, mas também no aconselhamento. Não se sabe bem ao certo a resposta vital da mulher ao sair daquele encontro, o Evangelho não relata.
Mas quando o Evangelho não termina com precisão (na maioria das vezes), significa que o término dele torna-se opção de quem o lê e busca atualizá-lo na vida. Nesse Evangelho, de modo particular, devemos sentir esse carinho acolhedor de Deus por nós, mas também devemos nos decidir em relação ao que Ele nos pede. Assim, as pedras que trazemos na mão que ora ou outra utilizamos para jogar nos outros ou em nós mesmos, não mais existirão. Elas darão lugar ao solo fértil do coração que aprende a cada dia que “um erro na vida não significa uma vida de erros”(PE.Zezinho).
E as pedras que os outros querem nos jogar? Não se pode evitar o julgamento do outro, existindo ou não o erro. O que pode ser feito é deixar-se olhar pelo olhar que redime, que salva, que anima, que convence, que ama.
Eis o olhar de Jesus: olhar de quem AMA , acolhe, perdoa e levanta a pessoa para que ela possa recomeçar..
HUdson, parabéns pelo texto e pela linguagem que transmite a verdade do coração Divino que é essencialmente amor perante as nossas misérias.
ResponderExcluirCaríssimo, O sacramento da penitencia ou confissão faz com que essa esplêndida cena seja atualizada. Deus é sempre amor, pronto a perdoar os filhos seus.
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